O Globo
ANDRÉ MIRANDA
“Meu filme é muito mais sobre a vida do que sobre a morte. Ele refaz uma trajetória de vida, é sobre uma família, uma experiência, uma infância.”
Numa viagem ao Chile, a diretora Flávia Castro visita a casa para onde seus pais se mudaram, em 1972, fugidos da ditadura militar. Seu objetivo era procurar histórias sobre Celso Afonso Gay de Castro, seu pai, morto em 1984, aos 41 anos. Os donos se recordam que alugaram a propriedade para brasileiros, mas não lembram detalhes. Até que um deles pergunta: “Ele era uma pessoa importante?” Flávia diz rapidamente, meio por instinto, meio com consciência:
“Para mim, sim.”
A cena faz parte do documentário “Diário de uma busca”, o primeiro longa-metragem de Flávia, que tem pré-estreia para convidados hoje e estreia no Rio em circuito comercial na sexta-feira. O filme é o relato de uma filha atrás da memória do pai, de importância óbvia, que morreu em circunstâncias misteriosas em Porto Alegre, quando ela tinha 19 anos, mas que sobreviveu em suas lembranças. O resultado, porém, ultrapassou o tom pessoal que o motivou: “Diário de uma busca” foi o vencedor, em 2010, dos prêmios de melhor documentário dos festivais do Rio e de Brasília. Além dos prêmios, o filme está há sete semanas em cartaz em Paris e já foi exibido em mais de 20 países.
“Eu sou reservada, escrevi, mas não escrevia. Passei a vida com a sensação de que se eu contasse esta história da minha infância ninguém acreditaria. Então, ‘contar’ era um verbo que me dava medo. Esse foi um filme de libertação”, diz a diretora.
Em “Diário de uma busca”, o espectador vai a lugares onde Flávia esteve quando criança: a Venezuela, a França, o Chile e Porto Alegre. Entrevista pessoas que fizeram parte da trajetória de Celso, como o jornalista Zuenir Ventura e o político Jorge Machedo.
O assunto é sempre o mesmo: a militância dos anos 1970 contra a ditadura militar. Aos 20 anos, Celso foi preso pelo Dops e torturado.
Para evitar novas prisões, então, deixou os filhos — Flávia tem um irmão mais novo, João Paulo Castro, o Joca — com seus tios e partiu junto com Sandra para o Chile, seguindo os passos de centenas de refugiados brasileiros. As crianças viajaram depois.
Também como muitos refugiados, a família teve que deixar o Chile após o golpe contra o presidente Salvador Allende, em 1973, e foi para o exílio na França. Celso e Sandra terminaram se separando, e ele acabou na Venezuela, onde se casou de novo e teve uma filha, Maria, que conviveu com o pai apenas até os 2 anos e meio de idade. Com a anistia do governo brasileiro, em 1979, todos retornaram ao Brasil, sendo que Celso já estava novamente divorciado.
O fato marcante para a história de Flávia, e que certamente foi peça fundamental para sua motivação em realizar seu documentário, ocorreu em Porto Alegre, em 1984:
“A polícia disse que ele foi assaltado e reagiu. Mas a versão oficial nunca convenceu ninguém. Houve muitas investigações, todas inconclusivas. Há contradições, como o depoimento do médico que fez a autópsia. Um laudo do IML mostra que ele levou quatro tiros, e não dois”, diz a diretora.
“As roupas dele tinham marcas de sangue de outras pessoas. Havia muitos mistérios no caso, e isso foi o que me fez ir atrás.”
Agosto 2011
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