Amyr Klink

Mar Sem Fim


Construir o Paratii 2 é, pelo critério do próprio Amyr Klink, a maior aventura de sua carreira. E já começou.

Registrar passo a passo a montagem desse barco, filmando a viagem antes da partida, permite que se documente em imagens raras e fotogênicas a incubação de um sonho que se concretiza diante da câmera pelo planejamento. Pode-se flagrar os momentos em que o itinerário quase inverossímel toma gradualmente a forma de um projeto viável.

É nessa hora que as soluções técnicas contornam os riscos previsíveis do percurso, a estrutura se amolda aos ventos, mares, gelos ou canais que encontrará pelo caminho e o desenho se transforma numa antecipação visível da viagem. Num barco como Paratii 2, cada detalhe corresponde a uma etapa do trajeto. Por isso, mesmo inacabado, de borco no estaleiro, com as cavernas do casco expostas, ele está carregado de histórias. Seu antecessor, o Paratii ganhou um prêmio internacional — a Tillman Medal, do Royal Cruising Club — como uma das melhores embarcações que se poderia conceber para expedições polares. Como nas lendas da cavalaria, nesse caso a valentia também pode ser um produto da elegância.

Preparar aventuras temerárias como viagens seguras é a principal qualificação de Amyr Klink para exercer esse ofício singular, que consiste em procurar novas possibilidades de vida no território às vezes exíguo da existência humana. A aventura pode ser solitária, mas seus resultados são coletivos. Amyr Klink, descrevendo suas viagens inimitáveis, vendeu quase 350 mil livros. Em terra, gasta cada vez mais tempo fazendo palestra para empresas interessadas em aprender com ele técnicas extremas da administração de riscos. Ele hoje mora em Parati, mas vive num mundo sem fronteiras que, sem ele, talvez só fosse visitável pela ficção.